Outro dia, um pai apontou uma questão bem interessante. Ele assinalou o estresse dos adultos com os filhos e no exercício da autoridade educativa que lhes cabe.
É verdade: os pais, atualmente, se estressam muito por causa dos filhos. Aliás, boa parte desse estresse diz respeito à maneira como são vivenciados os papéis de pai e mãe – muito mais do que ao comportamento dos filhos. E, em geral, são estes que costumam receber todos os créditos do estado permanente de tensão em que vivem os adultos responsáveis por eles.
Vamos, só para reflexão, partir da premissa de que não são os filhos os únicos responsáveis pelo estresse dos pais. Para tanto, precisamos deixar de considerar que as crianças e os adolescentes de hoje sejam mais exigentes e críticos e tenham menos limites e menor tendência a acatar a autoridade. Vamos refazer a pergunta: por que os pais são tão estressados?
Primeiramente, porque, de acordo com a cultura a que estamos submetidos, vive-se muito mais para si do que para os outros. E os filhos são alguns desses outros: são próximos, estão ali por desejo dos pais, mas ainda assim continuam na condição de outros. E são outros que exigem bastante de seus responsáveis, mesmo que não sejam crianças com demandas infindas.
Sabemos que as crianças não nascem sabendo obedecer e que durante todo o processo educativo vão provocar as autoridades, transgredir e tentar burlar as regras. Sabemos também que, enquanto não assumem a própria vida, é comum que deixem os deveres para os responsáveis por eles. Por isso é preciso lembrar aos filhos do banho, da escovação de dentes, da lição de casa etc. E essas tarefas atrapalham a vida dos adultos que querem viver para si.
Além disso, vivemos numa sociedade que tem como ideal a manutenção da juventude eterna, o que leva à busca da aparência jovem e a um estilo de vida característico. E, vamos convir, é difícil conciliar juventude com a maturidade necessária para aplicar paciência e persistência no trato com os filhos.
Finalmente, precisamos reconhecer que o amor dos pais é sempre marcado pela idealização. Hoje, os pais planejam os filhos que querem e imaginam que serão extremamente felizes. Mas, a felicidade só poderá ser contabilizada após o árduo trabalho educativo – e é aí que a coisa encrenca. Os pais anseiam pela felicidade imediata, pela satisfação no presente, e, como nem sempre os filhos proporcionam esses momentos, o que sobra é o estresse.
Se quem tem filhos, por mais espevitados que sejam, entender que não residem só neles os motivos de seu estresse, conseguirá ter mais paciência, mais firmeza para ocupar o lugar de autoridade e, desse modo, diminuir a pressão e até tornar o processo educativo e a convivência com os filhos algo mais equilibrado, mais tranquilo e mais efetivo.
Criança não precisa ser barulhenta, desobedecer sempre, ser agitada; criança pode ser tranquila. Aliás, essa é a melhor condição para elas viverem plenamente a infância..
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de “Como Educar Meu Filho?” (ed. Publifolha)
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